logo RCN
Coluna das Artes

Coluna das Artes

  • - Elisa Silva - especialista em História da Arte e autora dos livros " Paris sonho meu" e " Paris - Uma viagem impressionIsta"

NOTÍVAGOS

Poucas pinturas representam de forma tão fidedigna o período vivenciado no mundo atualmente, em especial no último ano. É fácil fazer uma correlação entre a imagem apresentada em Notívagos e o isolamento imposto pela pandemia, bem como a introspecção que esse isolamento causou. A cena representada no quadro apresenta dois ambientes bem delimitados, um fora da cafeteria e outro interno, mas ambos nos remetem a uma sensação de solidão.

A parte externa da cena representa o vazio. A calçada e a rua estão tão vazias que nem um detalhe incidental como lixo jogado no chão vemos. Da mesma forma, a vitrine da loja em frente ao bar não apresenta nenhum objeto exposto, até as janelas do prédio entreabertas e mal iluminadas indicam ausência de movimento, levando o espectador a imaginar que ali ninguém habita.Por outro lado, dentro da cafeteria existem quatro personagens, mas isso não espanta o vazio que vemos do lado de fora, ao contrário, a falta de interação entre os personagens reforça o sentimento de solidão. É um silêncio ensurdecedor!

Na cafeteria existe um balcão enorme que preenche todo o espaço e sobre ele observamos duas cafeteiras, açucareiros, porta guardanapos, canecas e outros objetos típicos de um estabelecimento da época. Dentro do balcão um atendente de casaco e barrete branco está ocupado como seu trabalho, sem prestar atenção nos clientes.


Foto/divulgaçãoNotívagos, 1942, The Art Institute of Chicago

Os demais personagens são clientes que estão sentados nas banquetas que rodeiam o balcão, vemos um casal - cuja única indicação de se tratar de um casal é o fato de estarem sentados lado a lado entre tantos lugares vagos -, o homem de terno escuro e chapéu, segura um cigarro e pensa nas preocupações do dia a dia, a mulher ao seu lado olha distraidamente para um pedaço de papel em branco, ela é o ponto de destaque da obra, não só pelo excesso de iluminação que recebe, mas porque contrasta com as demais cores do quadro, sua pele branca, as madeixas ruivas, o belo vestido vermelho combinando com o batom dão colorido aos tons sombrios.

O personagem anônimo que vemos sentado de costas é possivelmente apenas uma técnica para equilibrar a composição, muitos artistas ao longo do tempo usaram este recurso, inserindo em seus quadros personagens ou objetos apenas para garantir o equilíbrio.

A composição é marcada pela iluminação, Edward Hopper era um grande estudioso da luz, por isso em suas obras esse recurso é sempre bem explorado. No quadro em questão, ele extrapola na iluminação interna e poupa na iluminação externa, aumentando assim a atenção nos personagens da cena.

Edward Hopper (1882-1967) nasceu em Nova Iorque e é um dos mais aclamados artistas modernos, é considerado um pintor realista e concentrou-se em representar cenas cotidianas que exploram muito bem sentimentos universais, como a solidão, sentimento esse que ficou tão bem ilustrado em Notívagos.


Anos 30, indústria artesanal marca início do desenvolvimento do Boa Vista Anterior

Anos 30, indústria artesanal marca início do desenvolvimento do Boa Vista

Força e superação do comércio Próximo

Força e superação do comércio

Deixe seu comentário